17 junho, 2007

das Câmeras

Pouco valor têm essas registradoras de momentos. Não faz muito sentido levar uma câmera para querer gravar algum momento que deixa de acontecer porque existe a câmera junto. Claro, deixa de acontecer porque não seria igual. (Depois de principiado isto [o todo, o blog], não precisarei esmiuçar tanta coisa.) Talvez haja uma carga de opinião minha incluída, porque nunca fui muito afeito a esse tipo de tecnologia. Mas provavelmente é verdade (poderia ser feito em mais detalhes [Spinoza já escreveu coisas parecidas em ao menos um de seus livros]) deixa-se de viver o momento (muitas vezes curtir a viagem, olhar as paisagens, ficar vislumbrado com alguma coisa nova) para tirar uma foto. Vantagens e desvantagens (também é um pré-requisito para o blog como um todo; um dia escrevo) à parte, não parece tão sábio. Talvez possa não ser tão verdadeiro no caso em que a diversão seja tirar fotos (talvez principalmente meninas, mas estou na dúvida), mas em geral deixa-se de viver para gravar. Repare que isso até pode combinar com os últimos tempos (aliás, esta é a idéia mais importante [ou mais avançada] do post), em que se armazena alguma coisa para aproveitar depois. A verdade é que uma foto nunca poderá prover as mesmas sensações (bom, alguém talvez discorde...) de ter vivido e sentido mais o momento. Na verdade, quando se deixa pra aproveitar algo depois, não se aproveita da mesma forma. (“Então viva!”: é isso que eu quero dizer? Não, claro que não. Só estou criticando as pessoas que ficam tirando fotos em detrimento de aproveitarem e viverem. [Não é nada útil, mas nada dessas discussões aqui, ao menos por enquanto.])

É bom desde já (“desde já” no fim do post...) esclarecer que elas não são registradoras de momentos. Elas só captam a imagem. De um pequeno pedaço da imagem do momento. Aliás, inclusive estamos com a visão clássica, em que em certo instante há certo mundo. Não, amigo, isso não acontece. Não sei a prova mais simples, mas alguns experimentos fazem com que esse modelo seja descoberto (ainda sairá um post sobre modelos [o que eu não faço pelos leitores...]). Mas isso nem é necessário. Basta pensar que mesmo que fotografando o momento não poderemos voltar a ele (e quero ver uma tecnologia pra isso, baguais, quem inventa só faz coisas fáceis, mas fazer o que, se as pessoas se surpreendem tão fácil...), e no fim não teve tanto significado o registro. E como admito não ter certeza que isso é suficiente (Bayes! preciso fazer um post pra ele também! [início de blog, pouca bibliografia, você não sabe como é]), pode-se juntar a isso o fato de que não registram totalmente (aliás, registram uma parte medíocre). É, Bayes, você precisa aparecer também. (Desde que descobri exatamente o que esse cara inventou não paro de enxergar aplicações.)

E você, aposto, nem leu tão atentamente para dizer criticamente que o fim do post não se concretizou no início do segundo parágrafo, conforme eu esperava.

Uma nota: vale para vídeos também.

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