09 junho, 2007

Durante o sempre.

Tudo começou num jardim. O chão coberto de verde guardava segredos antes nunca vistos. Folhas apodrecidas, insetos gigantes, cheiros desconhecidos, o moldável da terra pura, e Eles. No início se olhavam pouco, mas com o passar daquelas horas intermináveis que só faziam o tempo parecer mais disforme foram se aproximando. Ela gostava de sorrir. Ele gostava de pensar. Ela sorria pelos pensamentos dele. Ele pensava muito no sorriso dela. Eram tristes. Conheciam muito, sabiam tão pouco. Eram inertes ao tempo, inabaláveis às crenças, fatigados pelo desejo, indiferentes à vida. E toda vez que lá vinha o sol, e Lucy pulava pelas nuvens azuis bombril Eles calavam para ouvir o bater de asas das borboletas. Mas o planeta girava sempre, e sempre na mesma velocidade. Girava, girava... As folhas do outono caíam, eles ainda estavam lá. Nada vai mudar meu mundo, sussurrava Ele, estamos presos, dizia Ela. E as raízes que do chão brotavam confeccionavam um emaranhado de laços tão fortes, que a única possibilidade era a impossibilidade de qualquer ação. Cantavam, algumas vezes. Gritavam, chamavam por algo que nem mesmo sabiam o que. Choravam, até o rosto arder com aquelas lágrimas frias e salgadas. A calma voltava, tudo estava igual, com a exceção do mofo que já cobria o grande parte do chão - que os fazia tão iguais e tão distantes do resto – e do sol que havia a algum tempo sumido. E assim, durante a eternidade (que era pesada demais pra suportar, segundo Ele), continuaram ali. Nada mais havia, nem um certo caminho pra voltar pra casa.

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